Texto de Eduardo Marinho adaptado por mim e para mim...
A situação de pobreza sempre me intrigou, a miséria me choca. Sinto um certo constrangimento inexplicável do meu “falar correto”, das minhas roupas limpas, dos meus dentes tratados. Não que desejasse abrir mão da minha situação. Mas por quê a maioria das pessoas não tem? Uma sutil sensação de injustiça sem me sentir claramente culpada, apenas constrangida com o que parecem privilégios nesses momentos, mas que tinham se incorporado em mim como o mínimo necessário.
Não podia achar aquilo natural e inevitável, como me diziam e se acreditava à minha volta. Na verdade, fugia-se do assunto. Eu fui muitas vezes considerada chata por querer falar do assunto.
Meu desconforto é moral, causado pela situação, pela ligação direta do consumo, da ostentação e do luxo com a criação da miséria absoluta, da sabotagem na educação, na informação, nos serviços públicos, com a falta de sentido na vida das pessoas – da miséria à pobreza e às classes intermediárias. Estes são meus sentimentos, meus pensamentos e minha visão de mundo.
Desenvolvi afeto e solidariedade com as pessoas em situação injusta. Não posso gostar ou desejar luxos, excessos, ostentações e desperdícios. Na minha visão, são expressões de grosseria moral e espiritual, de insensibilidade, de egoísmo, indiferença, enfim, de desumanidade, disfarçada com requintes de sofisticação. Para olhos mais solidários, de quem se sente parte do grande grupo humano ou além, da coletividade planetária, tais finuras e sofisticações são apenas uma capa frágil da sua real situação moral, de um ridículo inevitável e notória nocividade para a sociedade como um todo.
Não se trata de condenar ninguém, mas de perceber com olhos próprios e refletir sobre o que se vê. E como e em nome de quê se vive.
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