Alguns incidentes durante a nossa infância deixam impressões muito profundas. Recordo-me de um programa de televisão exibindo um equilibrista numa corda bamba cruzando as Cataratas do Niágara. Fiquei fascinado com a forma como ele colocava cuidadosamente um pé depois do outro, num estado de concentração total. Às vezes ele parava para se re-equilibrar e reavaliar sua posição. Um pequeno deslize ou leve desequilíbrio e ele poderia ter caído centenas de metros nas turbulentas e brancas águas abaixo de si. Era de tirar o fôlego.
Alguns de nós sentimos que a vida é semelhante. Achar nosso equilíbrio interno enquanto vivemos entre diversos extremos, como o equilibrista na corda bamba, pode ser precário. Pode criar uma enorme tensão. Vivemos num mundo de dualidades e a todo o momento temos de tomar decisões sobre onde ficarmos entre tantos extremos. Eu deveria tolerar a situação em silêncio ou deveria enfrentá-la expressando como realmente me sinto? Será que estou partindo de um ponto de auto-respeito ou simplesmente estou sendo arrogante? Estou sendo egoísta ou sensato ao importar-me com minhas próprias necessidades? Quando devo deixar que as coisas aconteçam e quando devo forçar o que eu desejo?

A maioria de nós acha a vida um malabarismo constante no qual tentamos cumprir muitas responsabilidades diferentes. Primeiramente, para nossa família e amigos – a maioria de nós sente os relacionamentos como a prioridade mais alta. Em segundo lugar, nossas responsabilidades com a carreira escolhida. Em terceiro lugar vêm nossos outros interesses, como serviço comunitário, esportes ou nosso próprio divertimento. Negligenciar um deles pode gerar estresse.
O maior estresse não vem do excesso de trabalho, mas da preocupação de estarmos negligenciando uma área de nossa vida. É de conhecimento geral que “workaholics”, freqüentemente brilhantes no seu campo de trabalho, utilizam esse mesmo trabalho para escapar de áreas de suas vidas que acham difíceis. Talvez conflitos em casa, ou até mesmo uma falta de auto-estima. Ir para um extremo normalmente é sinal de tentar acobertar uma carência em outra área. Parece que buscamos aquilo em que somos bons, mas muito habilmente criamos nossa vida de modo a evitar o que nos desafia ou que achamos difícil. Um renomado orador público certa vez me disse que tinha muita confiança para enfrentar uma multidão, mas numa conversa face a face freqüentemente se sentia totalmente inadequado, e assim, evitava esse tipo de contato. O resultado, desequilíbrio!
Comecei a praticar meditação quando eu tinha pouco mais de vinte e um anos. Um dos benefícios maravilhosos da meditação que descobri era a arte de me ver objetivamente, como fazendo parte da audiência que assistia meu próprio desempenho no palco. Assistindo-me, pude ver como estava tentando agradar os outros arduamente, comprometendo constantemente o que realmente eu queria ou necessitava. Era mais importante buscar respeito dos outros que de mim mesmo. Resultado... mais desequilíbrio.
Então, tenho responsabilidades sobre mim mesmo, e o que é isso? Quantos de nós alcançam um ponto onde a ansiedade em fazer malabarismos com nossas diversas responsabilidades alcançam extremos. Freqüentemente é nesse momento que reavalio as minhas prioridades. Hugh Mackay, um pesquisador social australiano, descreveu os anos 80 como os "ansiosos anos 80”. Ele observou que muitas pessoas estavam optando por uma "viagem interna"; uma mudança total de atitude onde uma pessoa começa a olhar internamente para solucionar a ansiedade e o extremismo. Culpar os outros ou as situações é o caminho da ilusão. Assumir a responsabilidade de como me sinto é o caminho verdadeiro. Eu não resisto aos desafios que a vida me traz e nem sou subjugado por eles.
Mas como encontrarmos nosso ponto de equilíbrio em cada situação?
Precisamos estar totalmente fora da influência, opiniões e até mesmo percepções passadas e adotar a "visão de helicóptero". Desse ponto, “visto do alto”, podemos ver o quadro inteiro com clareza. Desapego sempre foi a marca dos grandes pensadores, porque apenas quando vemos a situação como um observador desapegado percebemos a verdade real. Caso contrário, nossas emoções, desejos ou apegos cobrem essa clareza de nuvens. O desapego é muito necessário para encontrar o verdadeiro equilíbrio, mas muitos de nós podem tender a sentir isso como algo frio e distante. É por isso que o primeiro e principal equilíbrio é amor e desapego.
Amor é a maior necessidade. Aqueles que sempre expressam o seu amor com uma motivação pura, sempre sentem-se cheios de amor. Mas, para verdadeiramente estar amando, precisamos de desapego. Quando estamos desapegados não ficamos irritados ou afetados pelas ações dos outros, e assim, podemos manter nosso amor. Nosso amor não é condicional às respostas deles. Não estamos comercializando no “negócio de amor” que diz, “Se você fizer isso, só então você receberá meu amor...”
Algumas vezes temos de mostrar apoio e amor total, mas em outras ocasiões temos de dar um apoio oculto, permitindo que o outro se levante com seus próprios pés. Aí nosso desapego toma a forma de respeito em que o outro pode realizar sem nossa ajuda. Ser amoroso e desapegado é como uma proteção de diferentes influências e ambientes em que os humores, imperfeições e percepções dos outros não conseguem perturbar nossa clareza.
A prática da meditação nos leva naturalmente para a ‘visão de helicóptero’. De lá você pode ver o quadro completo e se tornar uma pessoa mais equilibrada. Algumas das áreas nas quais você encontrará equilíbrio são:
Análise e Aceitação
Algumas situações requerem análise clara, mas apenas a análise não finaliza o assunto. A mente fica repetindo os eventos, uma vez, outra e novamente e ficamos tentando manter nossa objetividade. Mas a aceitação pode clarear os sentimentos subjetivos e nos permitir seguir com nossa vida. Aceitação não significa negar ou reprimir, mas é uma profunda sabedoria em perceber que nada mais pode ser feito. Tudo o que podemos fazer é, para o que quer que tenha acontecido, tomar a lição e progredir para o futuro.
Humildade e Autoridade

Satisfação e Ambição
Algumas pessoas nunca estão satisfeitas. Não importa o quanto tenham, sempre querem mais. É um tipo canceroso de falta de paz interior que nunca os permite ficarem quietos desfrutando o presente. Outros parecem não ter nenhuma motivação para melhorar em qualquer nível. Um dos presentes da prática de meditação está em descobrir uma consciência profunda de nosso eu espiritual e nosso relacionamento com Deus.
Isso diminui a ambição por reconhecimento e cria um sentimento de abundância e satisfação. Porém, até mesmo com essa satisfação interna, pode haver ainda a ambição para melhorar nossas próprias vidas e ajudar os outros. Contudo, essa não é uma ambição que busca a aprovação dos outros, mas vem de um interesse genuíno de benevolência.
Charles Hogg é Diretor dos Centros de Raja Yoga da Brahma Kumaris na Austrália.
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